Uma frase de Bertolt Brecht me
veio à mente ao assistir Django-livre,“do rio que tudo arrasta, diz-se que é
violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem”. O filme pode
não ter nenhum vínculo com a realidade, seus personagens e a história são pura
ficção, mas a escravidão não é, nem suas atrocidades.
Ser castrado, chicoteado,
separado da família, comido por cachorros, tratado como um animal, trancado em
um buraco na terra, ser estuprado, andar sempre descalço, usar mordaça são
apenas algumas coisas que ocorriam com a propriedade dos senhores de escravos
mostradas no filme. Afinal, não podemos esquecer que os negros eram uma "propriedade".
Logo, toda bala que cruzava o
corpo de um senhor de escravo, todo o tiro que o fazia sofrer era vibrado pelo
público. Como não se indignar com o ATRASO que era a forma como eram
tratados?
Tarantino não poderia ter
simbolizado melhor a escravidão, a luta dos negros e o desejo de liberdade. O
Cowboy “criolo” Djando, interpretado por Jamie Foxx, como dizia todos que o
viam, não chora, ele não tem tempo. Está sucumbido pelo ódio e pelo desejo de
encontrar sua mulher. Acima de tudo, ele está cansado de aguentar toda a
ignorância, por isso vive querendo meter bala nos escravagistas.
Calvin Candie, interpretado por Leonardo
DiCaprio, encarna bem o escravagista. Faz você sentir ódio com suas justificativas
para todos os atos violentos que ele prática.
De todos os personagens, o que
mais me impressionou foi o caçador de recompensas alemão, interpretado por
Christoph Waltz. A cena em que ele cita Alexandre Dumas foi como se ele tivesse
tomado pela revolta contra Candie. Além de o ator ser excelente, no papel.
Algumas partes do filme demonstram bem a intenção de Tarantino, pelo menos é o que me pareceu.
Um negro chicotear um branco, o gatilho mais rápido do sul ser negro e a
estranheza com o simples ato de um “criolo” montar um cavalo – são algumas
partes que nos fazem refletir sobre seu significado.
A violência no filme também é
extrema e por isso foi alvo de críticas. Eu diria que se lavou muito bem a
terra com sangue. Sinceramente, não vejo problema algum nesse exagero.
Além disso, a frase de Brecht
lembrou-me de outra coisa. Jamais podemos condenar os escravos que matam o seu
senhor. Seja a paulada, queimado ou a tiro. Cada ato violento demonstra o
cansaço com toda a humilhação.
Django é um bom filme, que
acredito que deve ser visto por todos, não pelo valor histórico, mas pelas
questões que levantei aqui. Afinal, ainda hoje existem escravos e quem condena a violência de sua rebelião.
Veja o trailer do filme:
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