As leis que regem o direito a meia-entrada
afirmam que para ter o benefício os estudantes maiores de 18 anos devem possuir
uma identificação, que é conhecida popularmente como carteirinha de estudante. A
União Nacional dos Estudantes (UNE) detinha a exclusividade em emitir essa
identificação até 2001, quando o governo federal emitiu a Medida Provisória Nº
2.208, que quebrava o “monopólio” da UNE.
Atualmente, quase todos os
estados possuem leis que garantem o direito a pagar metade do valor nos
ingressos de eventos esportivos, de diversão, lazer e cultura.
Nesse ano (2012), na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) do Senado foi aprovado o estatuto da juventude que concede o
“monopólio” de emissão carteirinha
de estudante à Associação
Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), à União Nacional dos Estudantes e União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), além de entidades afiliadas nos
estados e municípios.
O direito a meia-entrada será
assim privatizado por essas entidades. Só quem possuir a identificação estudantil,
que elas emitem, poderá usufruir o direito. A intenção da UNE, que
majoritariamente é organizada pela União da Juventude Socialista (UJS) é
garantir o sustento financeiro das organizações estudantis, através da
carteirinha de estudante.
Assim, semelhante ao imposto
sindical, que obriga o trabalhador sindicalizado ou não a contribuir uma vez ao
ano para sua entidade de classe, as direções das entidades estudantis querem
obrigar os estudantes, filiados ou não, a sustentar essas organizações
estudantis através da compra da carteirinha. O grande problema disso tudo é que
o sustento dessas entidades está sendo feito pelo estado, que aprova e garante
a aplicação da lei, não pela livre escolha dos estudantes.
Isso fragiliza a independência
das entidades estudantis, pois independente do estudante querer ou não
participar do movimento estudantil ele irá garantir dinheiro para essas
entidades, ao pagar a carteirinha. Isso pode criar ou já criou, uma casta de
burocratas que não conhece a base do movimento estudantil e só serve para
barrar os estudantes na luta pelos seus direitos.
Filiação estudantil
A Juventude Marxista entende
que as entidades estudantis devem possuir uma identificação estudantil, mas
isso não pode estar atrelado ao direito à meia-entrada.
Como nos sindicatos, a
carteirinha deve ser símbolo da filiação às entidades de base (que no caso dos
estudantes são os DCE, CAS e Grêmios). Os estudantes devem decidir, por meio de
assembleias, se querem ou não se filiar as entidades municipais, estaduais e nacionais,
decidindo democraticamente quanto cada entidade de base teria que pagar e com
que periodicidade. Esse pagamento poderia ser por depósito em conta, no caso
dos universitários. Os secundaristas poderiam passar uma caixinha nas salas e
arrecadar a contribuição.
As filiações não precisam ser
única fonte de renda do movimento estudantil. Podem ser organizadas outras
formas de arrecadar dinheiro: vender camisetas, fazer shows e festas. O mais
importante disso tudo é que o financiamento da Une, Ubes e ANPG, não estaria
mais atrelado ao estado, mas aos estudantes, únicos interessados que suas
entidades sejam independentes.
A conquista da
meia-entrada
“A gente quer inteiro
E não pela metade...” –
Titãs
O livro Memórias Estudantis, da fundação da
Une aos nossos dias, da
historiadora Maria Paula Araujo relata que as primeiras campanhas pelo direito
a meia-entrada surgiram na década de 30. Dyneas Aguiar, que foi presidente da
União dos Estudantes Secundaristas Paulistanos, relata no livro que os jovens
realizavam manifestações criativas para exigir esse benefício. Ele conta que na
luta pela meia-entrada nos cinemas os estudantes inventaram a “fila boba”:
“Do largo do Paissandu até a
Avenida Ipiranga (centro de São Paulo) havia uns oito a nove cinemas, frequentados
por pessoas que iam de chapéu, vestido longo, todos bem arrumados. O cinema era
um acontecimento, principalmente nos sábados e domingos. Nós organizávamos a
fila boba, ou seja, 50 a 60 estudantes ficavam na fila da bilheteria pedindo
meio-ingresso. Com isso, todo mundo perdia o começo do filme, ninguém entrava
na sessão das oito. Depois, ninguém entrava na sessão das dez. E eles não
podiam fazer nada, não podiam prender porque você estava numa fila, sem fazer
absolutamente nada”.
João Diego, Tesoureiro do Diretório Central dos estudantes do Bom Jesus Ielusc.
Publicado no site: marxismo
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